segunda-feira, 28 de outubro de 2013

ENTREVISTA: PROFESSORA LUANA CUNHA







Professora de Português do Colégio Estadual Círculo Operário, Luana Cunha é graduada em Letras, especialista em Língua Portuguesa e mestranda em Estudos da Linguagem pela UFF. Ela  tem 28 anos, é casada, não tem filhos e leciona há 8 anos.  Nesta entrevista, fala sobre o exercício do magistério, língua portuguesa e educação.




 




 
 




Carlos Drummond de Andrade já dizia que o Português são dois, mas na verdade, se observamos bem, são vários.




 

JC: Desde a infância, você sempre quis ser professora?
LUANA CUNHA: Sim, desde muito nova. Comecei a dar aulas aos 14 anos para alguns alunos da minha própria sala. Eu estava na 8° série, o 9° ano de hoje.  Meu professor de matemática, o nome dele era Clóvis, reclamou com a turma das notas baixas e no meio dessa reclamação, ele sugeriu que os alunos tomassem aulas de matemática comigo, fora do horário escolar. Ele ainda disse: “E se eu fosse a Luana, cobraria por isso”. Como eu morava perto da escola e quase todos os outros alunos também, comecei a dar aulas no terraço da minha casa, pois eu morava numa casa de vila com um terraço grande. Dei aulas não só de matemática, mas de todas as outras disciplinas. Comecei com 2 alunos e cheguei a 40 alunos. Eles iam todos os dias. Eu estudava de manhã, chegava em casa 12:30h. Começava a dar aula 14:30h. Era uma hora por dia (cada horário). Começava às 14:30h e terminava às 18:30h. Eu tinha uns 10 alunos por horário. (risos) Quando lembro, nem acredito. Antes de eu abrir a explicadora, já ensinava as lições a meus primos.
JC: Por que você escolheu ser professora?
LUANA CUNHA: Como eu disse, desde muito nova, sempre gostei de dar aulas. Quando terminei o Ensino Médio, já quis logo começara a faculdade de Letras. Sempre fui apaixonada pelos textos literários, pelo poder das palavras. Mas, assim, ser professora é muito bom, pois mais do que ensinar, a gente pode motivar, inspirar alguém. Além do mais somos auxiliadores dos alunos. Nós os ajudamos a conquistar seus sonhos. Então, fazemos parte de seus sonhos também. E isso é muito bom e não tem preço.
JC: Alguém já criticou sua escolha profissional?
LUANA CUNHA: Sem dúvida. Muita gente já me disse “você é inteligente, tente um concurso em outra área”. Como é do conhecimento de todos, a carreira do magistério não é muito valorizada no Brasil. Por isso, muita gente já tentou me convencer de mudar de profissão. Também já recebi outras boas ofertas de trabalho, mas quem me conhece bem sabe que eu não mudaria de profissão por nada desse mundo. Não tenho a mínima vontade nem mesmo de largar a sala de aula para atuar em outra área da escola. Meu prazer está em estar com os alunos, preparar as aulas, enfim, em ensinar.
 
JC: Qual é a inspiração ou a motivação para dar aula todos os dias?
LUANA CUNHA: São os alunos! Quem mais? Sim, são os alunos, pois eles são o futuro do nosso país. Se queremos um mundo melhor amanhã, a base está na escola. Eu acredito que é possível construir uma escola pública de qualidade, é possível formarmos cidadãos exemplares, é possível o sucesso de nossos alunos. Mas pra que isso aconteça, é preciso que alguém veja o mundo com olhos de esperança. Eu vejo o mundo assim.
JC: Quanto ao emprego da língua, você acha que os jovens de hoje falam “errado”?
LUANA CUNHA: Não é que falem errado, Carlos Drummond de Andrade já dizia que “o Português são dois”, mas na verdade, se observamos bem, são vários. O Brasil é um país muito grande, por isso é natural que haja variedade de falares. O caso é que não se pode desprezar a língua culta porque é ela que vai abrir as portas para nossos jovens. Ao redigir uma redação do Enem, ao fazer uma entrevista de emprego, o jovem terá de usar a língua padrão. Mas, não é um problema usar empregar a língua informal, o problema existe quando a empregamos em situações que não são adequadas. Alguém já disse que a língua é como a roupa: se vamos à praia, usamos um biquíni, um short; se vamos ao shopping, talvez um jens; se vamos a um casamento, um longo, um terno. Enfim, é preciso saber sempre usar a língua a nosso favor.  E que fique claro que devemos respeitar todas as maneiras de falar.
JC: Que conselho você daria aos seus alunos?
LUANA CUNHA: Que aproveitem o dia de hoje. Eu os aconselharia a viver intensamente cada dia, a colher o fruto de cada dia, e isso em tudo: no aprendizado escolar, nas amizades, na alegria da vida etc. Sou eu quem escreve o editorial deste jornal. Até hoje não conseguimos montar uma grupo fixo de alunos, as publicações sempre variam, então, todos os editoriais publicados até hoje foram escritos por mim. Eu sempre procuro mostrar essa visão aos leitores, pois percebo que muitos jovens não colhem tudo o que tem pra colher, sabe? Ou seja, naquele dia, poderiam ter aprendido uma coisa nova, ou ter feito uma amizade nova ou ter vivido algo diferente, mas desperdiçam os momentos. E esses momentos não voltam nunca mais. Então, meu conselho é este: faça de cada momento uma oportunidade de crescimento.
 
 
 
 

2 comentários:

  1. Ah gente eu achei isso muito fofo. Ver que se importa conosco e que somos uma inspiração pra ela.

    Hannah

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